Relatório Seminário Cristo G20

Em 20 de janeiro de 2024, foi assinado pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, o Decreto de Criação do Comitê Cristo G20. Viemos, por meio deste, tornar públicas nossas intenções e ações durante o ano do G20 Brasil. Reunimos neste Comitê, pessoas de nossa sociedade que possuem sensibilidade, conhecimento e prestígio suficientes para ajudar a abordar temas transversais dentro das agendas sociais contemporâneas na direção do bem de todos e da preservação da nossa Casa Comum.

Sendo assim, nós, os membros do Comitê Cristo G20, estamos prontos para prospectar, receber, debater, incentivar e viabilizar iniciativas que identificamos como adequadas ao G20 Brasil. Além disso, almejamos utilizar os canais de comunicação do G20 com a sociedade civil e apresentar as atividades, os eventos e os resultados que fizeram, fazem e farão parte da história do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor.

O Comitê participa dos debates a partir de suas interações com os Grupos de Engajamento e se posiciona promovendo seus próprios eventos. Ademais, dispondo da importância icônica do Cristo Redentor, podemos ser o púlpito internacional dos grandes debates da atualidade, de uma forma plural, equitativa e sustentável.

Por fim, entendemos a grandeza de nossas ambições e estamos convictos de que as alcançaremos, através de nossos esforços e valores comuns, sempre buscando a maior harmonia possível entre todas as nações.

Isto posto, é importante destacarmos que o Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor tem como sua "alma mater" os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, o mesmo ocorrendo no G20. A partir disso, identificamos várias ações, projetos e co-participações do Santuário a serem apresentadas aos Grupos de Engajamento.

Seguimos duas vertentes: a apresentação de toda a atuação social e ambiental do Santuário; e a colocação de nossas opiniões e sugestões nos espaços abertos para a sociedade civil. Por isso, já realizamos três eventos reunindo profissionais com incontestável conhecimento e interesse nos temas debatidos. O primeiro evento foi realizado no dia 03 de junho de 2024, o segundo no dia 10 de junho de 2024 e o terceiro no dia 17 de junho de 2024.

O primeiro evento, realizado no dia 03 de junho, foi intitulado “Tecendo Conexões: Diálogos sobre Educação Ambiental e Sustentabilidade no Contexto do G20” e contou com a participação do Padre Anderson Pedroso, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e conselheiro do Comitê Cristo G20 no item T20.

O primeiro painel do evento foi intitulado “Educação, Meio Ambiente e Sustentabilidade na Prática” e contou com a participação de Padre Josafá Carlos de Siqueira, vigário episcopal para o meio ambiente e a sustentabilidade; Sérgio Besserman Vianna, presidente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e conselheiro do Comitê no item C20; Valdeci de Boareto, gari da Comlurb e autor do livro “Comportamento que te salva”; Oskar Metsavaht, fundador da Osklen e do Instituto E e conselheiro do Comitê no item B20; e Miguel Pinto Guimarães, arquiteto e urbanista e conselheiro do Comitê no item U20.

A prática da educação ambiental em tempos de mudanças sociais foi debatida, destacando a necessidade de um maior foco nesta pauta dentro do contexto do G20, onde o debate sobre currículos escolares de um modo geral não ocupa um lugar tão proeminente. No Brasil, há uma crescente conscientização da importância da educação ambiental para se alcançar mudanças de comportamentos. Um exemplo que merece ser citado é o Núcleo Integrado de Meio Ambiente da PUC-Rio. No entanto, o avanço no currículo das escolas de ensino fundamental e médio ainda é insuficiente, sendo as atividades extracurriculares e o voluntariado pontos de destaque nesse contexto.

A encíclica “Laudato sí’”, do Papa Francisco, ressalta a importância de iniciar ações ambientais concretas a partir do nível pessoal e expandi-las para a comunidade, enfatizando o meio ambiente como um bem comum da humanidade e não apenas um recurso para exploraçãoprodutiva.

Para uma educação ambiental eficaz, é crucial um entendimento abrangente que englobe múltiplos eixos, incluindo a educação ambiental informal que complemente os saberes fragmentados da universidade, buscando uma visão sistêmica.

É fundamental desenvolver três pontos essenciais: o enfoque na prevenção, mitigação, adaptação e resiliência; uma abordagem sistêmica global, regional e local; e a conscientização urgente sobre alternativas e esperança para enfrentar os desafios ambientais.

A PUC-Rio exemplifica a prática da educação ambiental ao integrar escolas de seu entorno, formando assim cidadãos ecoconscientes capazes de influenciar nas políticas públicas. Contudo, é imperativo que essas iniciativas ultrapassem os muros da universidade para formar agentes multiplicadores em diversos contextos, tornando a educação ambiental acessível e relevante no maior número possível de localidades.

A prática dos princípios da ética ambiental, considerar a natureza como sujeito de direitos, a justiça socioambiental e o combate à injustiça climática, é essencial para uma abordagem realista e eficaz diante da crise ambiental em que vivemos.

Para se obter um impacto social abrangente, além das instituições educacionais, é necessário adotar métodos que ressoem no cotidiano dos jovens, saindo do discurso tradicional acadêmico e político. A participação ativa das pessoas é crucial para promover mudanças ambientais significativas, assim como para trazer a cultura oceânica e a arquitetura sustentável para o currículo escolar.

Integrar a Ecological Social Governance (ESG) na infraestrutura física escolar é essencial para se atingir o progresso econômico com sustentabilidade ambiental, sempre almejando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A promoção de discussões públicas transparentes e abrangentes é fundamental para fortalecermos nosso ativismo pessoal e enfrentarmos os desafios coletivos.

Em suma, através da educação (formal e informal), da promoção do respeito ao próximo e da transformação de comportamentos individuais, construiremos uma sociedade mais sustentável e justa.

Todos nós temos que desempenhar um papel crucial no cuidado com o meio ambiente e no fortalecimento do bem comum.

O segundo painel do evento foi intitulado “As diversas esferas da educação ambiental” e contou com a participação de Renan Ferreirinha, Secretário de Educação do Rio; Padre Thiago Azevedo, vigário episcopal para educação; Beatriz Mattos, coordenadora de pesquisa da Plataforma Cipó; e Tainá de Paula, ex-secretária de Meio Ambiente e Clima.

Foi debatido o fato que, desde a tenra infância, é crucial proporcionar experiências ambientais como hortas e cultivos nas escolas, iniciativas que partem do micro para impactar globalmente. Muito já foi feito nesse sentido e continuará sendo feito, mas é essencial integrar a agenda ambiental ao ambiente escolar conforme o interesse das crianças e jovens.

A urgência da crise ambiental nos convoca a sair de nossas bolhas pessoais e profissionais. Questões como o papel do G20 e sua conexão com a COP 30 destacam-se como oportunidades para abordar globalmente os desafios climáticos e suas repercussões principalmente junto aos mais vulneráveis.

No entanto, enfrentar essa crise vai além das profissões e exige uma gestão aberta à mudança e responsabilidade pública. A pauta climática deve ser vista como uma questão social, com necessidade de construir agendas que perdurem além dos momentos midiáticos. A espiritualidade e a fé também têm um papel importante nesse contexto, contribuindo para o cuidado da "Casa Comum". Os legados do G20 e da COP 30 devem fortalecer novos pactos e modelos locais que preservem recursos e sejam relevantes para as comunidades.

As cidades, por exemplo, precisam se adaptar, o que implica custos significativos, mas iniciativas como o U20 podem integrar cidades na busca por soluções coletivas para um mundo comum e desejável para todos.

A conscientização sobre esses desafios começa desde cedo, impactando o futuro através do ensino nas escolas. A escola, como agente de mudança social, deve liderar inovações que sejam efetivas na prática. O Rio de Janeiro, por exemplo, pode mediar e orientar essas discussões, aproveitando seu papel como ponto de encontro de diversas questões socioambientais.

Assim, a ponte entre as ações globais e locais é essencial, e a escola tem um papel primordial nesse processo de educação e transformação social.

A educação ambiental no currículo escolar é um pilar essencial, tanto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) quanto no currículo carioca, validado pelo conselho de educação local. É crucial que o ensino não apenas respeite as expectativas de aprendizagem, mas também se aproxime da realidade carioca, incluindo disciplinas eletivas de sustentabilidade e promovendo a expansão do ensino integral. Nesse contexto, a abordagem deve ser prática, com atividades que envolvam os alunos diretamente, promovendo o aprendizado por meio da prática e estimulando o pensamento crítico.

Escolas católicas, inspiradas pela BNCC e pela consciência ecológica do pensamento papal, adotam uma perspectiva que vai além da religião, focando no cuidado com a "Casa Comum"Este enfoque deve ser ampliado globalmente através de financiamentos internacionais e da diplomacia paradiplomática, explorando também os impactos através da inteligência artificial para preparar as crianças para o futuro.

Enfrentar o negacionismo climático é crucial, portanto, especialmente entre aqueles menos informados, promovendo um senso de pertencimento e conscientização sobre os desafios ambientais. É fundamental abordar a ansiedade climática nas crianças, integrando os pilares econômico, ambiental e social de maneira equilibrada.

Além disso, a inclusão dos povos originários como referência na educação ambiental é essencial para equalizar os pilares do desenvolvimento sustentável e fortalecer iniciativas locais. Saúde mental também deve ser uma prioridade, discutida e integrada às escolas através de serviços como CAPS e CRAS, preparando melhor as comunidades para lidar com crises futuras.

Para enfrentar os desafios que virão, é essencial intensificar o diálogo entre o governo nacional, a sociedade civil e as escolas, preparando-se adequadamente para eventos futuros e promovendo uma educação ambiental robusta e abrangente.

O segundo evento, realizado no dia 10 de junho, foi intitulado “Mulheres Impulsionando a Economia: desafios e perspectivas brasileiras” e contou com a participação da Karol Mendez, Superintendente de Autonomia Econômica da Secretária de Estado da Mulher; da Janaina Gama, co-liderança da delegação do W20 Brasil; e da Giorgia Vaz, assessora de Relações Internacionais da Prefeitura do Rio de Janeiro.

O primeiro painel do evento foi intitulado “As múltiplas faces da participação feminina na economia” e contou com a participação de Janaína Gama, co-liderança da delegação do W20 Brasil; Joyce Trindade, ex-secretária de Mulher da Prefeitura do Rio de Janeiro; Silvia Gonzaga, coordenadora do Cristo Sustentável, setor socioambiental do Santuário Cristo Redentor; e Marcele Porto, coordenadora de pesquisa e monitoramento feminino na Superintendência de Autonomia Econômica da Secretaria Estadual da Mulher do Rio de Janeiro.

Destaca-se o Projeto Ser Mulher do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, que é realizado em parceria com a Igreja Nossa Senhora do Parto, e visa proporcionar assistência integral à mulher em situação de vulnerabilidade social. Além de oferecer um serviço de bem-estar biopsicossocial e espiritual, o projeto se estende à capacitação profissional. Com atuação em dois polos geográficos distintos - Centro da Cidade e Jardim Botânico - o projeto aborda questões cruciais como saúde materno-infantil, empoderamento feminino, empreendedorismo, capacitação para o mercado de trabalho e conscientização sobre direitos e violência contra a mulher. O atendimento é focado na mulher gestante em risco emocional ou social, estabelecendo uma relação de ajuda baseada em acolhimento empático, sem preconceitos ou julgamentos. Sob a luz da moral cristã e do código de ética profissional, o projeto também promove formação e apoio ao empreendedorismo feminino, buscando sempre contribuir para o fortalecimento e autonomia das mulheres atendidas.

A luta das mulheres por igualdade permeia diversas frentes, desde garantir oportunidades iniciais até ocupar espaços de poder e influência. É crucial que as mulheres tenham acesso a essas oportunidades para serem o que desejarem, algo fundamental para promover uma sociedade mais justa e inclusiva.

Eventos paralelos, como espaços de colaboração, desempenham um papel vital nesse processo, proporcionando plataformas para fortalecer a rede de apoio entre mulheres. No entanto, os desafios enfrentados são múltiplos, incluindo vários tipos de violência que continuam a ser uma realidade.

As três dimensões da participação feminina na sociedade - poder, autoestima e dinheiro - destacam-se como áreas cruciais para o avanço. As mulheres precisam ocupar todos os espaços de poder e fortalecer redes de networking eficazes para promover uma representação significativa em todos os níveis.

A autoestima é essencial para impor quem somos na sociedade, algo que deve ser treinado e incentivado desde cedo, tanto intelectual quanto fisicamente. Dessa forma, é fundamental apoiar iniciativas que promovam a autoestima e o empoderamento feminino.

No aspecto econômico, é necessário incentivar e apoiar a produção e consumo de produtos e serviços entre mulheres, visto que o sucesso financeiro desempenha um papel crucial na ligação entre poder e autoestima. Ensinar as mulheres a discutir abertamente sobre dinheiro e gerir sua vida financeira é fundamental para fortalecer o mercado feminino e promover a igualdade econômica.

Apesar dos avanços, ainda há um longo caminho pela frente para alcançar uma participação econômica efetiva das mulheres. A luta não é apenas para aumentar a produtividade, mas sim para alcançar uma verdadeira igualdade em todas as esferas da vida.

O acesso a financiamento e capital é crucial para promover a equidade de gênero, tema central das discussões do W20. Propostas de financiamentos mistos estão sendo debatidas, visando integrar sustentabilidade nos processos e garantir que nenhum grupo seja deixado para trás.

É importante reconhecer que nenhum país alcançou ainda a equidade de gênero, e ao falar sobre as necessidades das mulheres, falamos sobre questões fundamentais para toda a humanidade. Nesse sentido, as discussões no W20 não apenas visam empoderar economicamente as mulheres, mas também promover programas de apoio sustentáveis que beneficiem a sociedade como um todo.

O diagnóstico dos dados públicos revela o panorama do empreendedorismo feminino no Rio de Janeiro, o estado mais feminino do Brasil. Apenas 9% das empresas lideradas por mulheres geram empregos significativos, refletindo um ciclo que, se não for interrompido, continuará limitando as oportunidades para as mulheres. Essa realidade está profundamente enraizada na cultura e na história, evidenciando a necessidade de promover uma economia mais justa e valorizada.

Deve-se questionar como abordar as múltiplas diversidades e falar com todas as mulheres de forma inclusiva e eficaz. Sendo assim, é crucial criar redes de apoio e políticas públicas que incentivem o desenvolvimento de carreira dentro de instituições, assim como incentivar o empreendedorismo. Isso envolve não apenas conectar mulheres com empresas privadas, mas também garantir que políticas governamentais sejam implementadas e sustentadas no cotidiano.

A rede de mulheres possui um potencial único para compartilhar conhecimentos e desenvolver soluções práticas. Em conjunto, as políticas públicas devem ser iniciadas nas diferentes esferas de governo e ampliadas para impactar a sociedade de maneira tangível, incentivando o empreendedorismo feminino em todos os níveis.

É essencial promover diálogos construtivos com grandes empresas para criar pontes sustentáveis que impulsionam o empreendedorismo feminino nos mais diversos setores. O W20 está focado em recomendações para financiamento misto e na integração de contas públicas e privadas para fortalecer o ecossistema empreendedor feminino.

O segundo painel do evento foi intitulado “As possibilidades de acesso ao financiamento e ao empreendedorismo feminino” e contou com a participação de Nina Silva, CEO do Movimento Black Money e conselheira do Comitê no item W20; Kelly Quirino, representante eleita dos funcionários do Banco do Brasil no Conselho de Administração; e Helena Tenório Veiga de Almeida, Diretora de Pessoas, TI e Operações do BNDES.

As palestrantes, prestando uma homenagem à recém falecida economista, Maria da Conceição Tavares, retomaram uma de suas mais memoráveis frases declarando que: “Ninguém come PIB, come

alimentos”. Nesse sentido, a economista sempre argumentou que um economista verdadeiro não pode ignorar a justiça social. Neste contexto, o G20 desempenha um importante papel no realinhamento econômico global e, dessa forma, é crucial destacar a participação feminina.

Com isso, negócios liderados por mulheres levantam questões importantes. Mulheres self-made precisam não apenas estar preparadas, mas enfrentar desafios adicionais, como o questionamento constante sobre seu sucesso e estilo de vida.

Sendo o Brasil um país de grande desigualdade, o incentivo ao empreendedorismo feminino certamente poderá se colocar como um vetor de distribuição de riqueza. Um acesso igualitário (com taxas equânimes de juro independente de gênero) a financiamentos empresariais é um vetor de propulsão econômica geradora de riqueza para toda sociedade. As tecnologias atuais com novas opções de acesso a crédito e o advento das cooperativas de microcrédito possibilitam ações mais eficazes de empreendedorismo feminino.

Diversificar a produção feminina é essencial, afastando a ideia restritiva de que as mulheres só podem empreender em setores como beleza e alimentos. Isso porque a inclusão de mulheres em todos os setores econômicos é fundamental para promover uma economia mais justa e inclusiva.

O terceiro evento, realizado no dia 17 de junho, foi intitulado “Inovação Tecnológica e Trabalho: Navegando na Era da Inteligência Artificial” e contou com a participação do Antônio Lisboa, Representante do Labour 20 no Brasil; Rodrigo Lovatti, Chanceler do Comitê Cristo G20; e João Carabetta, Chefe Executivo de dados da Cidade do Rio de Janeiro.

Foi destacado que a agenda definida pela presidência do G20 é crucial para orientar os grupos de engajamento global. A tecnologia, desenvolvida por nós humanos, tem sido utilizada de maneira desigual, reforçando ideias coloniais e ampliando disparidades entre o Norte e o Sul global.

É imperativo alcançar a igualdade no acesso e no uso da tecnologia para que possamos discutir seus avanços de forma equitativa. Isso reflete o compromisso do G20 Brasil em não deixar ninguém para trás.

No entanto, é essencial também estabelecer critérios éticos para o desenvolvimento tecnológico, garantindo que não amplie as desigualdades socioeconômicas existentes.

É essencial questionar como podemos enfrentar esses novos desafios globais e a cooperação internacional é fundamental, não apenas entre os membros do G20, mas também estendendo seus impactos positivos aos países que não estão representados diretamente, para direcionar uma resposta para esta pergunta. Além disso, estabelecer laços e integrar as iniciativas do G20 de forma inclusiva é central para enfrentar os desafios emergentes da humanidade de maneira eficaz e justa.

O primeiro painel do evento foi intitulado “Inteligência Artificial e Startups na Vanguarda da Inovação” e contou com a participação de André Miguel, CIO da Zoox Smart Data; Thallita Gabriele Lopes Lima, Coordenadora de pesquisa do projeto “O Panóptico”, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC); e Juliana Campos Noronha, Ecosystem Leader da Open Innovation Ecosystem da Accenture.

Empresas estão cada vez mais explorando as capacidades da IA, que depende de uma base sólida para operar. O Brasil, com sua matriz energética limpa, se apresenta como uma oportunidade estratégica para promover a IA responsável, integrando cultura, inovação, cibersegurança, governança e arquitetura, especialmente na saúde e na defesa dos direitos humanos fundamentais. Por isso, muitas das grandes empresas que precisam de vultosos data centers são grandes consumidores de energia e consideram o país como a melhor opção para instalarem seus data centers.

Este momento representa uma oportunidade para todos, com a educação desempenhando um papel central. É essencial a junção entre educação e o ambiente de trabalho para desenvolver as habilidades necessárias nesta Era da IA, como pensamento crítico, curiosidade e ética.

Nesse sentido, o sistema educacional precisa ser aprimorado para integrar plenamente a IA nas escolas e redes de ensino, abordando os limites éticos da tecnologia. A vanguarda desse avanço tecnológico deve priorizar a justiça social, garantindo que a IA seja uma ferramenta de solução, não apenas um meio de eficiência, mas também de equidade.

O Papa declarou que a Inteligência Artificial (IA) deve ser usada para promover os direitos humanos e estar alinhada com princípios éticos.

Ele destacou os seis princípios da "algor-ética" do apelo de Roma: transparência, inclusão, responsabilidade, imparcialidade, confiabilidade, segurança e privacidade, ressaltando que estamos passando por uma revolução cognitiva e industrial.

Vivemos em um mundo onde novas tecnologias, apesar de serem uma conquista humana, concentram o poder e a riqueza do Norte Global em detrimento do Sul Global. A declaração do G7 de Hiroshima já apontava a necessidade do uso ético da tecnologia. Devemos discutir essas tecnologias disruptivas sob uma perspectiva ética, aproveitando este momento rico para refletir sobre como enfrentar os desafios planetários.

A falta de conhecimento sobre IA pode gerar vieses discriminatórios. Como por exemplo a Large Language Model (LLM), que é uma das IAs mais próximas da inteligência humana, o que pode causar medo. O primeiro desafio é superar essas resistências. Conforme Amy Webb afirma, todos seremos impactados pela IA, classificando-nos como a geração da transição. Nesse sentido, é nosso dever que os dados que alimentam as IAs sejam inclusivos e diversos, e que haja um ensino massivo sobre a utilização e os efeitos da IA.

A IA afeta todas as áreas de nossa vida, desde nossos feeds de notícias até a aceitação em vagas de trabalho. A ONU alerta sobre a importância de compatibilizar a tecnologia com os direitos humanos fundamentais. Não podemos aceitar o mito de que a IA seja algo exclusivamente técnico, sem envolvimento humano. Precisamos integrar a perspectiva humana nesse processo. Desde o surgimento do Chat GPT em 2020, houve um boom de IA acompanhado por um certo pessimismo. Para desenvolver modelos de IA mais inclusivos, é essencial entender os motivos e os riscos de sua construção.

O Brasil está elaborando a primeira regulamentação de IA com o PL 2338, que visa estabelecer normas gerais para o desenvolvimento, a implementação e o uso responsável da IA, e que, se consolidado, será pioneiro no Sul Global, gerando assim uma perspectiva brasileira da inteligência artificial.

É importante diversificar os bancos de dados, já que existem muitos problemas em diversas áreas, como reconhecimento facial, por exemplo. A IA, sendo alimentada por pessoas, produzirá resultados mais representativos, pois será baseada em dados diversos. Portanto, devemos incluir dados específicos do Brasil nas LLMs para maximizar os benefícios para toda a sociedade.

A IA precisa de uma materialidade para funcionar, ou seja, precisa de nuvens, que na maioria das vezes são detidas por empresas como a Amazon e outras Bigtecs. Portanto, para uma Startup iniciar, ela incorrerá em um custo operacional bem alto. Dessa forma, precisamos oferecer uma infraestrutura para desenvolvermos soluções nossas aqui no Brasil.

Hoje já existem soluções para se manter os dados confidenciais para evitar que a OpenIA não os utilize. Serviços como “Amazon Bedrock” da empresa AWS, é um exemplo, pois deixam os dados armazenados localmente e, sendo assim, eles não são passíveis de serem utilizados para outras finalidades além daquelas especificadas.

Precisamos restringir os Chats, para não termos respostas perigosas como resultado de perguntas inadequadas, por exemplo: como construir uma bomba? É necessário que haja um equilíbrio no que tange ao grau de controle dos Chats, pois temos que ter um filtro, como na questão das bombas, mas, ao mesmo tempo, precisamos de um grau de liberdade para utilizar.

O Brasil sofre recorrentemente o problema de vazamento de dados, apesar de ter uma lei de proteção de dados bem sofisticada. Nosso país ainda está caminhando na questão de cibersegurança, em especial no contexto do G20 como um todo.

Somente o uso da IA não garante o sucesso de uma empresa, mas sim a sua capacidade de resolver um problema para seu cliente. Entretanto, uma empresa pode ganhar alguns atalhos com IA. Não obstante, a área de IA e machine learning tem uma empregabilidade muito grande para quem decide se especializar.

No Brasil, precisamos de políticas públicas que fomentem o investimento em tecnologia. É preciso que haja união de forças entre as corporações, as Startups, as universidades e o governo para promoverem a inovação. Além disso, parcerias com as universidades do Brasil precisam ter um viés de mercado, o que ainda acontece muito aquém do necessário.

O pensamento crítico é fundamental na assimilação da IA generativa, pois as pessoas precisam ser capazes de identificar quando a IA está “alucinando”, ou seja, precisam saber quando algo não é verdade.

Estamos surfando numa nova onda após a onda de profissionais de programação, agora temos a de engenheiros de prompt. Para a maioria das pessoas, que não trabalham desenvolvendo IA generativa, o senso crítico precisa prevalecer. 

É preciso nos educarmos criticamente para lermos e entendermos que uma saída algorítmica não é uma certeza mas sim uma aproximação, portanto, sujeita à crítica. Voltamos assim à questão da importância da educação em geral.

O segundo painel do evento foi intitulado “Reimaginando o Trabalho na Era da Inteligência Artificial” e contou com a participação de Antônio Lisboa, Representante do Labour 20 no Brasil; Andrea B. Cruz, CEO da SERH1 Consultoria e conselheira do Comitê no item L20; Thereza Paiva, Secretária Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro; e Maurício Guedes, Superintendente de Inovação e Sustentabilidade da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços do Rio de Janeiro.

Estamos vivendo um período de transição não apenas tecnológica, mas também social, que demanda uma nova forma de comportamento. É essencial ter consciência da importância de aprender novas habilidades e de desapegar de métodos antigos. O fator tempo desempenha um papel crucial nessa mudança, variando entre academia, governo e empresas, mas é imperativo encontrar um ponto em comum.

Embora alguns trabalhos possam não ser afetados imediatamente, é fundamental preparar as pessoas para os novos desafios que estão por vir. O pensamento crítico se torna essencial para reconhecer o valor e os benefícios do que está sendo realizado, compreendendo profundamente os problemas para encontrar soluções eficazes.

Criar e formalizar empregos é uma prioridade, aproveitando as tecnologias como conquistas que devem ser utilizadas e controladas de forma responsável. Dessa forma, a democracia no acesso ao conhecimento e nas experiências vivenciais é fundamental. É necessário levar as discussões ocorridas no G20 para todos os espaços, ampliando a comunicação e disseminando informações de maneira inclusiva e abrangente. Isso a partir da consciência individual de que estamos passando por uma transição e que precisamos repensar a nossa forma de trabalho atual. Para isso é preciso tempo de assimilação e proatividade.