Ovelhas e Pastor

                            “Que o rebanho possa alcançar, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do pastor” (Oração Coleta, 4º Domingo da Páscoa).

        Estamos no quarto domingo da Páscoa, chamado de domingo do Bom Pastor. Esta imagem será o centro de nossa reflexão de hoje e se mostra como uma imagem presente em toda a liturgia deste domingo. 
        Este também é o dia mundial de oração pelas vocações de especial consagração. A mensagem do Papa Francisco para este dia nos relembra da necessidade de pastores para apascentar o rebanho segundo o coração de Deus, de pedir que não faltem operários para a messe e que tenhamos a coragem de arriscar as nossas vidas pelo Reino de Deus:
        “Com efeito, o desejo de Deus é que a nossa vida não se torne prisioneira do banal, não se deixe arrastar por inércia nos hábitos de todos os dias, nem permaneça inerte perante aquelas opções que lhe poderiam dar significado. O Senhor não quer que nos resignemos a viver o dia a dia, pensando que afinal de contas não há nada por que valha a pena comprometer-se apaixonadamente e apagando a inquietação interior de procurar novas rotas para a nossa navegação. Se às vezes nos faz experimentar uma «pesca miraculosa», é porque nos quer fazer descobrir que cada um de nós é chamado – de diferentes modos – para algo de grande, e que a vida não deve ficar presa nas redes do sem-sentido e daquilo que anestesia o coração. Em suma, a vocação é um convite a não ficar parado na praia com as redes na mão, mas seguir Jesus pelo caminho que Ele pensou para nós, para a nossa felicidade e para o bem daqueles que nos rodeiam” (Mensagem do Papa Francisco para o 56º dia Mundial de Oração pelas Vocações, 2019).
        Estamos também às vésperas da celebração da memória de Nossa Senhora de Fátima, modelo de entrega a Deus e aos seus planos. Como as revelações particulares ressaltam algum aspecto fundamental da Revelação, Fátima volta a nos recordar a necessidade da conversão e da oração pela paz. Ainda recordando as palavras do Papa Francisco, neste dia de oração pelas vocações, ao se pronunciar sobre a figura da Virgem Maria, assim comenta: “Na história daquela jovem, a vocação também foi uma promessa e, simultaneamente, um risco. A sua missão não foi fácil, mas Ela não permitiu que o medo A vencesse. O d’Ela «foi o “sim” de quem quer comprometer-se e arriscar, de quem quer apostar tudo, sem ter outra garantia para além da certeza de saber que é portadora duma promessa. Pergunto a cada um de vós: sentes-te portador duma promessa? Que promessa trago no meu coração, devendo dar-lhe continuidade? Maria teria, sem dúvida, uma missão difícil, mas as dificuldades não eram motivo para dizer “não”. Com certeza teria complicações, mas não haveriam de ser idênticas às que se verificam quando a covardia nos paralisa por não vermos, antecipadamente, tudo claro ou garantido”. (Mensagem do Papa Francisco para o 56º dia Mundial de Oração pelas Vocações, 2019).
        Concluímos também a nossa 57ª Assembleia Geral da CNBB, escolhendo a nova presidência. Rezemos pelos bons frutos das novas diretrizes da ação evangelizadora e pelo bom trabalho da nova presidência. Foi um tempo de muita colegialidade e unidade. Cumprimentamos ao nosso Bispo Auxiliar, D. Joel Portela Amado pela eleição para Secretário Geral, assim como os demais membros da Presidência: D. Walmor, D. Jaime e D. Mário.
No Domingo do Bom Pastor, 4º da Páscoa, sempre lemos um trecho do capítulo 10º do Evangelho de João. A figura do pastor, mesmo não sendo uma figura muito comum em nossa cultura, esta imagem foi trazida a nós pela influência da revelação cristã, fruto da presença católica em nossa sociedade, de tal forma que temos muita consciência do que significa ser pastor do rebanho. 
        O Evangelho deste domingo, (Jo 10, 27-30), traz a terceira parte da alegoria de Jesus como Bom Pastor, ressaltando a sua unidade com o Pai. Assim diz: As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um.'
O Bom pastor, sendo aquele que dá a vida pelas ovelhas, lhes dá também a vida eterna, e esta não pode ser tirada por ninguém. A fonte dessa força está em sua unidade com o Pai: quem recebe a vida do Bom Pastor, entra também nesta unidade.
        Três verbos importantes são utilizados no início da leitura: escutar, conhecer e seguir: um verdadeiro itinerário de vida cristã. Na verdade, este é o itinerário do povo de Deus, um povo que escuta, que segue e busca conhecer cada vez mais o Senhor. Escutar a sua voz, sua palavra que nos indica caminhos e seguir seu caminho, por meio de nossas atitudes concretas do dia a dia, em meio a tantas vicissitudes e dificuldades, mas seguindo a Cristo Jesus Nosso Senhor. As ovelhas escutam e seguem. Como consequência, lhes dou a vida eterna. Nascemos para viver eternamente. E podemos estar seguros de sua proteção, já que ninguém pode nos tirar-nos de suas mãos. Essa comunhão com Jesus nos leva imediatamente à comunhão com a Trindade.
        Dentro desse chamado a ouvir e seguir a voz do Bom Pastor, a segunda leitura, (Ap 7, 9.14b-17), vem nos falar de uma grande multidão:
Eu, João, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. Então um dos anciãos me disse: 'Esses são os que vieram da grande tribulação'. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e lhe prestam culto, dia e noite, no seu templo. E aquele que está sentado no trono os abrigará na sua tenda. Nunca mais terão fome, nem sede. Nem os molestará o sol, nem algum calor ardente. Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida. E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos.'
João, em sua visão, apresenta a assembleia dos justos nos céus, gente de todos os povos, raças e nações, vitoriosos pelo sangue do cordeiro. O cordeiro imolado é maior do que todas as forças negativas que vem contra o mundo. Somos convidados a seguir o cordeiro/pastor onde ele for, em união com ele na morte e na vida: só assim participaremos da vida da qual ele mesmo vive, a vida de Deus. A finalidade da revelação destas cenas consoladoras parece ser a de incentivar o desejo de imitar a esses cristãos, que foram como nós e que agora se encontram vencedores nos céus.
        Na linha da proclamação e reconhecimento do Senhor como Pastor, o salmo responsorial (Sl 99) coloca em nossos lábios a proclamação de que somos povo e Rebanho de Deus. Este salmo condensa a fé e a esperança de Israel e de todo o povo de Deus: a bondade e o amor do Senhor perduram para sempre.
        Finalmente, a leitura dos atos dos apóstolos (At 13, 14.4-52) apresenta Paulo e Barnabé que se dirigem aos judeus da diáspora, mas sendo rejeitados por estes, vão anunciar o Evangelho aos pagãos.  E, entrando na sinagoga em dia de sábado, sentaram-se. Muitos judeus e pessoas piedosas convertidas ao judaísmo seguiram Paulo e Barnabé. Conversando com eles, os dois insistiam para que continuassem fiéis à graça de Deus. No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra de Deus. Ao verem aquela multidão, os judeus ficaram cheios de inveja e, com blasfêmias, opunham-se ao que Paulo dizia. Então, com muita coragem,
        Paulo e Barnabé declararam: 'Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos. Porque esta é a ordem que o Senhor nos deu: 'Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra'.'
        Embora a segunda leitura vá falar de uma multidão que acolhe o Senhor e sua presença, aqui vemos aqueles que rejeitam o anúncio de salvação. A Fé é um dom de Deus, mas não uma imposição ao ser humano: ela conta com a livre adesão do ser humano: Para ser humana, «a resposta da fé, dada pelo homem a Deus, deve ser voluntária. Por conseguinte, ninguém deve ser constrangido a abraçar a fé contra vontade. Efetivamente, o ato de fé é voluntário por sua própria natureza. «É certo que Deus chama o homem a servi-Lo em espírito e verdade; mas, se é verdade que este apelo obriga o homem em consciência, isso não quer dizer que o constranja. Isto foi evidente, no mais alto grau, em Jesus Cristo». De fato, Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo nenhum constrangeu alguém. «Deu testemunho da verdade, mas não a impôs pela força aos seus contraditores. O seu Reino dilata-se graças ao amor, pelo qual, levantado na cruz, Cristo atrai a Si todos os homens». (Catecismo da Igreja Católica, 160).
Mesmo com essa rejeição, os apóstolos não desanimam e seguem adiante. São perseverantes, assim como Deus é perseverante em nos perdoar e cuidar de nós.
        No segundo domingo de maio, comemoramos em várias localidades do mundo, o dia das mães. Ao celebrar o Dia das Mães, essa imagem do amor gratuito e desinteressado, livre, forte e cheio de ternura, ocupa espaço na imaginação das pessoas e provoca gestos de carinho, presentes, flores e alegria. Vale meditar sobre este amor, conduzido pelas mãos do Bom Pastor.
        A festa das mães acontece no segundo domingo de maio, mês dedicado àquela que foi escolhida para ser Mãe do Redentor, Mãe de Deus e Senhora nossa. A ela, nos vários e lindos títulos com os quais a homenageamos, chegue a oração fervorosa, especialmente por nossas famílias, a fim de que seja o lugar da doação recíproca da vida. Que Ela esteja conosco neste caminho de seguimento do Bom Pastor e interceda para que santos pastores sejam enviados para apascentar o rebanho. Nossas orações pelas mães vivas e falecidas e em especial pelas famílias que, em torno às mães se unem na esperança da construção de um mundo novo.

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