O encontro de Jesus com Maria

        Uma piedosa tradição nos conta que carregando a pesada cruz para o Calvário, Jesus encontra-se com Sua Mãe, Maria Santíssima. Quando se cruzam os olhares da Mãe e do Filho são dois oceanos de amor que se juntam.
Ali estão o Deus feito homem por amor de nós que para nos salvar derrama até sua última gota de sangue no Calvário, e sua santa mãe, Maria Santíssima. 
É certo que Mãe e Filho se olham, se tocam, se fortalecem mutuamente naquela hora desoladora, na qual nada mais há a fazer, a não ser confiar com uma superesperança que a Palavra de Deus não falha. A vitória final não é da morte, mas da vida. A morte e o túmulo serão (como de fato foram) uma passagem para a eternidade feliz. A vida vencerá, apesar dos sofrimentos indizíveis daquelas horas.
Pode haver dor maior que a dor de uma mãe assistindo impotente ao sofrimento do próprio filho? O filho às portas da morte e ela nada podendo fazer? Há dor maior àquela que trouxe alguém à vida ver que outros, de modo cruel e covarde, a privam do fruto do seu ventre?
Aquela bela criança, que um dia a mãe carregou nos braços, alimentou, acariciou, educou, cuidou, viu crescer, se tornar robusto, pregar, fazer milagres, juntar seguidores etc. está, agora, à sua frente como homem das dores, todo chagado, cuspido, ensanguentado, vilipendiado e pronto para ser morto? Pode haver dor maior que neste encontro?
Deus não quer o sofrimento na vida de ninguém, mas já que ele apareceu entre nós como fruto do pecado e – aqui em especial – da maldade humana, o Senhor se vale dele para a nossa santificação. Deus quis fazer da dor e do sofrimento, misérias humanas, vias régias para a nossa salvação. 
Aliás, é Santo Agostinho quem diz: “Deus não permitiria o mal, se não pudesse tirar dele bens ainda maiores”. De toda essa trágica situação, tiramos a certeza de que Mãe e Filho entendem bem do sofrer e, por isso, nos ajudam quando nos vemos, pelas mazelas da vida, imersos nele. Nossa Senhora intercede por nós como nas Bodas de Caná e Seu amado Filho e nosso irmão nos atende a pedido de tão bondosa mãe. É um grande segredo de amor que só temos a agradecer a Deus.
        Voltemo-nos agora, irmãos e irmãs, para os nossos dias e pensemos no sofrimento do nosso povo. Quantos homens e mulheres, filhos e filhas de Deus, inclusive jovens, a quem o Santo Padre, o Papa Francisco, tanto carinho devota, de modo a convocar para este ano um Sínodo sobre a Juventude a fim de tratar das belezas e desafios desta fase da vida. 
        O Papa que fala tanto da “cultura do encontro”, quer se encontrar com os jovens e deseja também que os próprios jovens se encontrem entre si e com os adultos. Como Jesus e Maria, naquele momento angustiante, hoje é também tempo de nos encontrarmos com o próximo e fazer com que esse próximo descubra a beleza de se encontrar com o Senhor a caminho do Calvário e, depois, ressuscitado. A vida não é só glória. Não há Cristianismo sem Cruz, mas também não é só dor. Não há verdadeira fé em Cristo sem a glória da Ressurreição. É preciso sadio equilíbrio.
        Hoje, também muitas mães encontram seus filhos, pelas ruas, praças e vielas, com a cruz às costas. É a cruz não mais de madeira, mas do desemprego a assolar a tantos brasileiros jovens, em especial; da violência, que, infelizmente, não tem mais dia, local e horário para acontecer: acomete pessoas de todas as idades, localidades e condições sociais; dos vícios em drogas “lícitas” e ilícitas, que tantas vítimas fatais fazem Brasil afora; do tráfico humano, a levar as famílias a nunca mais reverem seus entes queridos desaparecidos; de filhos(as) e viúvas de policiais e agentes de segurança cujo caminho do Calvário é, hoje, uma sala de velório, na qual vão dar o último adeus ao ente querido assassinado em serviço... São alguns dos encontros de mães e de filhos em nosso tempo tão marcado pelo desprezo à vida, dom de Deus a ser preservada, desde o ventre materno até o seu fim natural.
Jesus, tem, querida mãe sofrida e até abatida pela dor, um olhar também para a senhora. Olhar de amor, de carinho, de compaixão, de esperança, mesmo em meio a muita dor. A senhora não está só, Deus, pode parecer ausente, mas não está. Está perto. Diz o salmista que “O Senhor está perto, está perto de todo aquele que O invoca lealmente”. Portanto, no seu caminho de dor e sofrimento, Deus se faz presente e lhe pede uma coisa: Ajude a ajudar também a outros que se encontram em situação igual à sua.
        A você jovem que, de algum modo, carrega a sua cruz nos dias de hoje, lembre-se de que Cristo já percorreu esse caminho de dor e também de amor. Era para se entregar por você e por mim que Ele sofreu tantos horrores. Nesse caminho, Ele quer lhe dizer, agora, o mesmo que disse ao filho da pobre viúva de Naim: “Jovem, levanta-te! Não importa o peso ou o tamanho de sua cruz. Eu estou com você. A minha Igreja está com você. Não se desanime. Coragem, você vencerá! ”.
        A você que assiste, no seu dia a dia, esse encontro da Mãe e do Filho no caminho do Calvário, no caminho da morte, não seja mero expectador. Seja um Cirineu, aquele que ajuda Jesus a levar a cruz. Não nos acomodemos como se a dor alheia não nos dissesse respeito. Onde sofre um(a) irmão(ã), Cristo sofre neles. 
        Acolhamos, por meio de Nossa Senhora, a Virgem das Dores, a cada sofredor. Sejamos misericordiosos como o Pai é misericordioso! 

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